Márcia Pinna Raspanti
Um estudo técnico promovido pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Análise da Evolução das Viagens de Passageiros por Ônibus e dos Casos Confirmados da Covid-19, concluiu que não há evidências de que o aumento do número de passageiros transportados levou a um aumento do número de casos.
O levantamento teve como base a variação da demanda por transporte, calculada pela NTU, e os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) durante 17 semanas. A pesquisa avaliou os dados coletados do número de passageiros transportados em 15 sistemas de transportes públicos urbanos por ônibus no Brasil, responsáveis por 171 municípios, e a incidência de casos confirmados nas mesmas cidades.
No total, foram considerados 255 registros de informações dos sistemas de transporte público coletivo. Não foram encontradas evidências de que o aumento do número de passageiros transportados levou a um aumento da incidência de casos confirmados de Covid-19. Em algumas cidades, o aumento da demanda por transporte coincidiu com a redução do número de casos confirmados, enquanto em outras a redução do número de passageiros do transporte coletivo aconteceu simultaneamente com o aumento da incidência de casos.
O presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, esclarece que a associação vem monitorando o risco de transmissão da Covid-19 no transporte público desde o início da pandemia. “O transporte público por ônibus urbano não pode ser apontado como responsável pelo aumento do número de casos, não há uma relação entre uma coisa e outra.”
Para Cunha, é importante que haja a conscientização da população para que sejam tomados todos os cuidados recomendados nos ônibus. “Se motoristas, cobradores e passageiros usarem máscara dentro do ônibus e nos pontos de parada, se as pessoas evitarem conversar e se os veículos trafegarem sempre com janelas abertas, o risco será baixo”, comenta. Às empresas cabe a higienização adequada dos ônibus, a testagem dos funcionários e disponibilização de álcool gel para os colaboradores. “Temos que conviver com a pandemia com segurança”, completa.
Cunha afirma que a pandemia deve ser uma oportunidade para a sociedade discutir questões como o escalonamento de horários para evitar aglomerações nos horários de pico. “Sempre houve muita resistência das áreas produtivas a este tipo de mudança, mas talvez seja o momento de repensar esses horários”, diz.
Metodologia-
O estudo analisa 15 sistemas de transportes: Belém (PA); Belo Horizonte (MG), municipal e intermunicipal metropolitano; Curitiba (PR), intermunicipal metropolitano; Fortaleza (CE); Goiânia (GO); Macapá (AP); Natal (RN); Porto Alegre (RS); Recife (PE); Rio de Janeiro (RJ) municipal e intermunicipal metropolitano; Vitória (ES) e Teresina (PI).
Juntos, esses sistemas possuem alta representatividade no cenário nacional: são responsáveis pela realização de mais de 325 milhões de viagens de passageiros por mês, ou 13 milhões de deslocamentos diários de pessoas. Isso corresponde a 32,5% do total de viagens de passageiros realizadas em todos os 2.901 municípios brasileiros atendidos por sistemas de ônibus.
A análise foi realizada comparando-se os casos confirmados de Covid-19 observados sete dias após a demanda transportada, considerando que, em caso de contaminação do passageiro durante a viagem, este seria o prazo médio entre a eventual infecção e a detecção da contaminação por testes. “A conclusão é de que não há correlação entre nacional entre uma varável e outra. Ou seja, não há relação entre o aumento da frota ofertada e consequentemente do número de passageiros transportados com o nível de contaminação”, afirma André Dantas, diretor técnico da NTU.