Dos cerca de 24.500 veículos que deverão ser fabricados neste ano, o maior volume será de urbanos, seguidos pelo modelo para fretamento e turismo, segmentos que começam a dar sinais de recuperação
As encarroçadoras de ônibus acompanharam a boa movimentação do mercado brasileiro e terminaram 2018 com incremento de 39,8% na produção, totalizando 20.424 veículos, ante as 14.607 unidades que foram fabricadas em 2017. A Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus) credita o resultado positivo no ano passado a vários fatores que ajudaram a estimular o setor, como a redução da inflação de 10,5% para 3,6% ao ano, a diminuição da taxa de juros da economia (Selic) de 14,5% para 6,5% ao ano e a reforma trabalhista, o que fez com que o empresário retomasse a confiança, repercutindo na melhora do mercado. “Também tivemos a exigência das poltronas com acessibilidade para os ônibus rodoviários, que levou muitos empresários a antecipar suas compras, e a licitação de seis mil ônibus escolares”, diz José Antônio Fernandes Martins, presidente da Fabus.
O dirigente comenta que aos poucos o mercado de ônibus está se recuperando, mas observa que o resultado de 2018, embora tenha sido bom, avançou sobre uma base baixa de 2017, quando a produção atingiu 14.607 unidades. “Se compararmos com 2014, quando foram fabricados 27.967 ônibus no país, estamos quase 50% abaixo.”
Entre as fabricantes, a Marcopolo liderou a produção de carrocerias, com 9.454 ônibus produzidos – 5.788 unidades na fábrica de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e 3.666 unidades na fábrica de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro (a Marcopolo Rio). Esse volume representou um crescimento de cerca de 70% sobre 2017, quando foram fabricados 5.549 veículos, segundo a Fabus.
Vários fatores ajudaram a retomada da indústria de ônibus, segundo Rodrigo Pikussa, diretor do negócio ônibus da Marcopolo, como a melhora do cenário econômico, que impactou significativamente a confiança e os investimentos de renovação de frotas; a maior disponibilidade de crédito e a melhora da situação de crédito de muitas empresas, além da necessidade de manutenção da idade média da frota de ônibus rodoviários, para atendimento da regulamentação do setor.
Pikussa cita também as recomposições tarifárias em várias cidades do Brasil, que impulsionaram a renovação da frota de ônibus urbanos, e a retomada das licitações para fornecimento de ônibus e micro-ônibus escolares para os municípios brasileiros. “Além disso, a melhora do nível de emprego e da atividade econômica gerou um aumento significativo na demanda do setor de fretamento.”
De acordo com a Fabus, a Caio Induscar, segunda colocada no mercado, produziu 5.338 ônibus de janeiro a dezembro de 2018, registrando um crescimento de 10,7% sobre 2017, quando fabricou 4.820 veículos. A Mascarello, terceira no ranking, fez 2.035 veículos no ano passado, 31,7% a mais que no ano anterior (2.035 unidades). Na sequência estão posicionadas a Neobus, que fabricou 1.916 ônibus em 2018, 33,4% a mais que em 2017 (1.436); a Comil, que produziu 1.108 veículos, 28,9% a mais que no ano anterior (860); e a Irizar, que fabricou 573 veículos, 44,3% a mais que em 2017 (397).
A Volare aumentou em 45,4% a sua produção, passando de 1.685 unidades em 2017 para 2.450 unidades em 2018. No mercado nacional, expandiu em 45,6% suas vendas, de 1.315 para 1.915 unidades. A empresa também atribuiu a ampliação das vendas de ônibus no ano passado à melhoria do cenário econômico brasileiro e às licitações para fornecimento de veículos escolares.
No mercado externo, a Volare também teve um bom desempenho, aumentando de 370 ônibus enviados a clientes no exterior em 2017, para 535 unidades no ano passado.
Nas exportações a Volare mantém a estratégia de ampliar sua atuação em diferentes continentes, como na América do Sul, para o Chile, Peru e Uruguai; na África, para países como a Nigéria; e no Oriente Médio, para o Catar.
Exportação – No mercado externo as empresas conseguiram aumentar em 17,2% as suas vendas em 2018, com a exportação de 5.627 veículos, ante um embarque de 4.803 unidades em 2017.
A Marcopolo manteve a liderança no ranking das exportações de ônibus, com o embarque de 2.965 veículos no ano passado – 2.394 unidades da fábrica de Caxias do Sul (RS) e 571 unidades da fábrica de Duque da fábrica de Caxias (RJ).
A Caio Induscar vendeu ao exterior 1.020 ônibus; a Irizar, 548; a Mascarello, 412; a Comil, 397; e a Neobus 285.
O que ajudou as encarroçadoras a elevar as exportações em 2018, segundo o presidente da Fabus, foi a cotação do dólar, que se manteve no patamar de R$ 3,60, além da conquista de novos mercados para compensar a queda nas vendas para a Argentina. “Sem recursos e negociando empréstimo de US$ 50 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina começou a restringir as exportações do Brasil, o que fez o volume de embarques de ônibus para lá cair de 500 para 200 veículos no ano passado”, explica Martins.
Do total de ônibus exportados no ano passado, 2.400 unidades foram de modelos rodoviários, 2.000 de urbanos, 1.200 de micro-ônibus e 63 unidades de modelos intermunicipais (para fretamento de curta distância), de acordo com a Fabus.
Previsão – Com a sinalização de que as operadoras do transporte de passageiros continuarão comprando ônibus neste ano, as encarroçadoras projetam para 2019 um crescimento de 15% a 20% do mercado interno, o que demandará uma produção de 24.508 veículos, ante 20.424 unidades registradas em 2018. “Não haverá um aumento tão grande como ocorreu em 2018 porque em 2017 o resultado foi ruim”, afirma o presidente da Fabus.
O crescimento esperado para o mercado de ônibus neste ano, segundo Martins, está atrelado a várias ações do governo, como as reformas da previdência e tributária. “Se esses dois programas forem aprovados, o Brasil começa a entrar na rota do crescimento.”, afirma.
Na avaliação do dirigente da Fabus, o mercado de ônibus urbanos deverá ter um volume maior neste ano, porque ainda tem muitas frotas que precisam ser renovadas. “Este setor depende de inanciamento e se o Refrota der um salto significativo de participação neste ano, vai ajudar a reativar as vendas”, comenta Martins.
O Refrota é uma linha de crédito do Programa Pró-Transporte, com recursos provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal. A taxa de juros cobrada pelo financiamento de 9% ao ano é inferior aos 12% do BNDES/Finame.
Segundo Martins, em 2018 a participação do Refrota no financiamento de ônibus urbano ficou abaixo de 10%. Isso significa que do total de R$ 3 bilhões disponibilizados para o setor foram gastos somente R$ 400 milhões no ano passado.
“Ainda tem muito dinheiro. Vamos trabalhar para ver se a nova diretoria da Caixa consegue agilizar a operação desta linha de crédito”, ressalta o presidente da Fabus.
Martins também está confiante no avanço das vendas de ônibus para o fretamento e o turismo, que começaram a dar sinais de recuperação. “Com a economia reagindo, a indústria contrata mais e vai precisar de ônibus para transportar os seus funcionários. Além disso, estamos tendo maior incentivo para o turismo no país.”
No segmento de ônibus escolar, a Fabus espera que o governo dê continuidade ao programa Caminho da Escola, o qual considera ser muito importante para o transporte de estudantes em todo o país.