“HVO brasileiro” deve acelerar a descarbonização do transporte coletivo

A grande vantagem do BeVant, biocombustível produzido a base de óleos e gorduras vegetais por bidestilação, é que não existe necessidade de infraestrutura especial como ocorre com a eletrificação ou o gás

Marcia Pinna

O BeVant é um biocombustível avançado produzido pela Be8, que segundo o CEO da empresa, Erasmo Carlos Battistella, é puro, pronto para ser utilizado como substituto do diesel, fabricado por bidestilação a partir de óleos e gorduras vegetais, reciclados ou não, que pode ser chamado de “HVO brasileiro”. O BeVant reduz de forma efetiva as emissões de CO² e de fumaça preta, assim como o HVO (óleo vegetal hidrotratado ou diesel verde).

“O BeVant tem as mesmas características do HVO, com a vantagem de ser produzido no país a um custo bem menor. O HVO precisa ser importado e custaria o dobro do BeVant. Em relação ao diesel, ele é 10% mais caro, mas com o aumento da produção o preço deve cair. Outra vantagem é que ele pode ser armazenado em nos mesmos tipos de reservatórios e transportado com os mesmos caminhões que o diesel é transportado hoje”, informou.

Atualmente, a Be8 tem capacidade de produzir 120 mil litros de BeVant por dia. “Ainda é pouco, mas podemos ampliar. A Be8 produz diariamente 4,5 milhões de litros de biocombustíveis (de diferentes tipos) hoje”, complementou Battistella.

A Mercedes-Benz apresentou os resultados preliminares dos primeiros testes feitos pela montadora com o BeVant. O projeto Rota Sustentável COP 30 consiste em um trajeto de 4.000 km, que vai de Passo Fundo (RS) a Belém (PA), realizado por dois ônibus com chassi OM500RS DD e motor OM460, um abastecido com BeVant e outro com diesel B15 – para efeito comparativo. O mesmo teste também está sendo feito com dois caminhões Actros 2553S 6×2. Os resultados finais serão auditados pelo Instituto Mauá de Tecnologia e apresentados na COP 30, em novembro.

Os índices obtidos no primeiro trecho da rota de Passo Fundo a São Bernardo do Campo (SP) foram divulgados à imprensa especializada hoje (23/10) na fábrica da Mercedes-Benz. “Do poço a roda (que inclui a produção), a redução na emissão de CO² foi de 65%. Do tanque a roda, o índice foi de 99%. E ao final da jornada, 532 toneladas de CO² equivalentes deixarão de ser emitidos”, ressaltou Luiz Carlos Moraes, diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil. A rota passará por nove estados brasileiros.

Transporte por ônibus-

Walter Barbosa, vice-presidente de vendas, marketing e peças & serviços ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, acredita que o BeVant é uma alternativa que pode colaborar bastante para a descarbonização do transporte coletivo de passageiros. “É um combustível muito parecido com o HVO, em termos de emissões, e que pode ter um preço mais próximo de um biocombustível como o B15.”

Barbosa afirmou que o uso do BeVant vai ao encontro do que a Mercedes-Benz acredita, que é uma combinação de tecnologias no processo de descarbonização. “O Brasil pode sair na frente de outros países com uma série de alternativas viáveis. E essa é uma tecnologia inédita no mundo que vai nesta direção”, avaliou em entrevista à Technibus.

Barbosa destacou que o BeVant ainda está sendo testado nos motores da marca. “O HVO já foi testado e está liberado. Agora, estamos muito otimistas em relação ao BeVant. Não acredito que terá impacto nos motores ou no desempenho dos veículos, por ser um combustível vegetal como o HVO. E neste primeiro trecho da rota, não houve realmente impacto em potência e desempenho. A Be8 já realizou vários testes também e as perspectivas são positivas.”

Os dados obtidos até agora mostram que não houve perda de performance dos veículos. “Na manutenção – intervalos de troca de filtros de óleo e de combustível – ainda teremos que validar nos próximos meses. É importante lembrar que os frotistas reclamam de problemas com o biocombustível, o B15, por exemplo, porque é utilizada matéria-prima animal e vegetal, não há uma regulamentação para isso. Já o BeVant é 100% vegetal, por isso acreditamos que não haverá esse tipo de problemas, assim como não ocorre com o HVO. É a gordura animal que reduz o ciclo de troca do filtro, às vezes em até 30%”, detalhou.

Para Barbosa, o fato do BeVant – assim como o HVO – não necessitar de investimentos em infraestrutura é a sua maior vantagem. “O operador só precisa ter um tanque de combustível para o produto, portanto, não tem nenhum impacto em termos de infraestrutura, diferentemente do que ocorre com o gás ou com os modelos elétricos. O otimismo é muito grande. E em breve acredito que o BeVant estará sendo comercializado”, comentou.

Para o executivo, segmentos como o transporte rodoviário de passageiros e o fretamento, que ainda não aderiram mais firmemente à eletrificação podem se beneficiar do BeVant, mas para o transporte urbano também pode ser uma opção interessante.

Sobre a eletrificação, Barbosa afirmou que é uma opção importante, mas que não é a única. “Hoje existe uma dificuldade em acelerar a eletromobilidade no país inteiro, e especialmente em São Paulo, por conta da infraestrutura. No Brasil, as linhas são de baixa tensão. E é com a alta tensão que é possível, por meio de subestações nas garagens, abastecer uma frota de mais de 100 ônibus. A eletromobilidade está caminhando, mas não no passo que gostaríamos, mas que é tecnicamente possível devido à infraestrutura.”

Mercedes-Benz apresentou o projeto Rota Sustentável COP30
à imprensa especializada (Foto: Márcia Pinna)

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