TECHNIBUS – Qual caminho deverá percorrer a indústria de autopeças para se manter competitiva?
Cláudio Sahad – A competitividade de qualquer setor industrial não depende apenas do que é feito do lado de dentro dos portões das fábricas, mas também das condições macroeconômicas, que podem representar poderosos entraves. O setor de autopeças faz parte de uma cadeia produtiva desafiadora, a da mobilidade, que, com perdão do trocadilho, está sempre em movimento, rompendo barreiras do conhecimento tecnológico. Pontuando os dois aspectos, o Sindipeças tem feito várias ações para, ao lado de outras entidades relevantes, participar da criação de políticas públicas que retirem os entraves macroeconômicos da competitividade da indústria de transformação e proporcionem seu aumento; e, paralelamente, trabalha para mostrar caminhos e estimular seus associados a investir em inovação e em capacitação de seus colaboradores.
TECHNIBUS – Atualmente, qual é o foco principal nas estratégias de toda a indústria de autopeças? É a inovação dos processos, a tecnologia, a maior qualidade dos produtos ou é a capacitação dos colaboradores?
Cláudio Sahad – O Sindipeças não se manifesta sobre produtos, especificamente, mas sobre o setor, de forma consolidada. Assim, uma das principais missões da entidade, executada com muita competência há mais de 70 anos, é a difusão de informações e, como afirmei na resposta anterior, o apoio a seus associados na identificação dos caminhos possíveis para investimento em inovação de processos, sem o qual a sobrevivência do setor estaria comprometida.
TECHNIBUS – Qual o principal avanço da indústria de autopeças, principalmente as sistemistas, conquistado nos últimos anos, em relação à inovação?
Cláudio Sahad – O setor de autopeças trabalha em total consonância com as montadoras. Todo desenvolvimento tecnológico implementado pelas montadoras é feito com intrínseca parceria com seus fornecedores de nível 1 e desdobrado ao longo da cadeia de fornecimento. Gosto sempre de citar o grande exemplo da competência de nossa engenharia, que é o motor flex, tecnologia que o país exporta para outros mercados, e que pode ganhar ainda mais relevância na busca planetária pela descarbonização. Temos sempre de lembrar que o inimigo é o CO2 e não a combustão. Portanto, esse tipo de motor, alimentado com biocombustíveis ou até hidrogênio, é de grande valia.
TECHNIBUS – O senhor comentou que, com o Mover – a nova política industrial –, o setor de autopeças sabe o que vai acontecer em 2025? O que a indústria já tem de efetivo em relação à previsibilidade?
Cláudio Sahad – Investimentos em inovação devem ser constantes. A previsibilidade estimula as empresas a investir sem receio de descontinuidades. De meados do ano passado até o final de janeiro, quase cem empresas associadas ao Sindipeças já estavam habilitadas no programa Mover. Essa quantidade é crescente e já ultrapassou o número de empresas que participaram do Rota 2030. Ao todo, são 163 empresas no período, somando montadoras e fabricantes de pneus, também. Ou seja, a cadeia produtiva está se movimentando. Um dos entraves, porém, é a escassez de recursos desse e de outros programas governamentais. Infelizmente, há mais demanda do que oferta.
TECHNIBUS – O senhor destacou que a grande virada de chave para o Brasil está na exportação, que fará os volumes aumentarem, mas falta competitividade. Quais são os entraves que atrapalham o crescimento da indústria de autopeças no mercado internacional?
Cláudio Sahad – Como meus antecessores e eu temos destacado ao longo de anos, os principais entraves estão em fatores que independem das empresas. Cito alguns exemplos, que tornam nossos custos muito mais elevados que o de nossos competidores estrangeiros: altos encargos trabalhistas, ineficiência logística, insegurança jurídica, elevada carga tributária, custo da burocracia, insegurança física e patrimonial, entre outros. Mas, além de superarmos os tais entraves da competitividade, para aumentarmos as exportações, também precisamos ter acordos comerciais com mais países, a fim de diminuir nossa dependência do Mercosul.
TECHNIBUS – A estimativa do Sindipeças é que a balança comercial das autopeças fechará 2025 com déficit de US$ 11,45 bilhões, o que representará uma queda de 12,5% ante o saldo comercial negativo de US$ 13,1 bilhões registrado em 2024. O que contribuirá para a redução do déficit do setor?
Cláudio Sahad – Didaticamente falando, alguns fatores podem contribuir para o aumento das exportações brasileiras de autopeças: 1) melhora na situação econômica da Argentina; 2) desvalorização do câmbio, na média anual de 2024 (de R$ 5,39); e 3) expectativa de melhora em outros mercados vizinhos, como Chile e Colômbia, importantes para as exportações de peças de reposição. Por outro lado, a mesma desvalorização do câmbio desestimula as importações. Somam-se a isso as incertezas provocadas por discursos e ações do atual presidente dos Estados Unidos. Com isso, o déficit deve ser reduzido.