Os desafios do transporte público

Anuário NTU 2023-2024 revela que transporte público por ônibus perdeu 44,1% de passageiros pagantes nos últimos dez anos. São 19,1 milhões de passageiros a menos por dia

Alexandre Asquini

A Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU) apresenta nesta terça-feira, 6 de agosto, o Anuário NTU 2023-2024, com 11 indicadores que explicitam o desempenho e os desafios do setor de transporte público por ônibus em nível nacional, quanto a operação, insumos e custos. A versão virtual do documento pode ser baixada por meio de link ao final desta matéria.

A apresentação ocorreu poucas horas antes da abertura da Feira Latino-americana do Transporte – Lat.Bus 2024 e do Seminário Nacional NTU – eventos que se estenderão até a quinta-feira, dia 8, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center, na capital paulista.

QUEDA NA DEMANDA

O Anuário mostra que, entre 2014 e 2023, o transporte público por ônibus no Brasil perdeu 44,1% dos passageiros equivalentes (pagantes). Isso significa que 19,1 milhões de passageiros por dia deixaram de usar o transporte, em razão principalmente de mudanças de hábitos, e-commerce, home office e priorização de veículos particulares. A situação ficou pior depois da pandemia: em comparação a 2019, o ano passado fechou com uma queda de 25,8%.

O diretor-executivo da NTU, Francisco Christovam, identifica este como um momento de transição. “O setor vem se recuperando da dramática crise da covid-19, que intensificou a tendência de queda da demanda registrada nas últimas décadas, mas os dados mostram que a demanda de passageiros dificilmente retornará aos níveis anteriores à pandemia sem a adoção de novas políticas públicas, como um novo Marco Legal, priorização para o transporte público e incentivos governamentais”.

Um projeto de lei para estabelecer o Marco Legal tramita no Congresso há três anos, tendo recebido agora o reforço de uma proposta completa, estruturada no âmbito do ministério das cidades, e com ampla participação e apoio do setor.

UNIVERSO DO LEVANTAMENTO

A análise contida no Anuário NTU 2023-2024 tem como base a situação de nove sistemas de transporte público por ônibus em capitais e regiões metropolitanas, cobrindo dois períodos diferentes de cada ano da série histórica – os meses de abril e outubro – entre 1994 e 2023.

Os sistemas monitorados são: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Em conjunto, tais sistemas representam 33% da frota nacional, que hoje é de cerca de 107 mil veículos, e 34% da quantidade de passageiros transportados no Brasil.

Levando em conta os meses pesquisados, em abril de 2023, foram registradas 204,6 milhões de viagens contra 209,2 milhões no mesmo mês do ano anterior. E houve 223 milhões de viagens outubro de 2023, contra 226,7 milhões no mesmo período de 2022. Esses dados revelam uma ligeira queda de 1%.

OUTROS INDICADORES

O Anuário mostra que os sistemas de transporte público por ônibus perderam 37,8% de produtividade no período de 1993 até 2023. A Idade média da frota atingiu 6 anos e 5 meses em 2023; um ponto significativo é que desde 2011, não há redução da idade média da frota.

O custo por quilômetro aumentou 3% em 2023. E o custo de mão-de-obra representa 42,7% do custo total; os valores médios de salários de motoristas, praticados em todas as capitais brasileiras, aumentaram 11,8% no comparativo dos meses de dezembro dos anos de 2022 e 2023.

SUBSÍDIOS E TARIFA ZERO

O Anuário NTU 2023-2024 inclui, como encarte, o relatório temático intitulado “Subsídios para o Transporte Coletivo Urbano por Ônibus”. Esse documento mostra que, desde o início da pandemia, houve crescimento importante do número de cidades brasileiras que subsidiam os passageiros do transporte público por ônibus. Atualmente, 365 cidades possuem algum subsídio tarifário em seus sistemas de transporte coletivo por ônibus e, dessas, 135 adotaram o subsídio total, ou tarifa zero.

A amostra pesquisada pela NTU indica que a média dos subsídios corresponde a 30% do custo total dos serviços, situando-se, portanto, abaixo do patamar aplicado internacionalmente, que, em média, é de 55%. Mesmo assim, a NTU considera que o dado traduz um grande avanço em relação ao cenário anterior à pandemia.

Veja também