Technibus – Qual o papel da BYD no avanço da produção de ônibus elétrico?
Marcello Von Schneider – A BYD foi fundada em 1995 primeiramente atuando na área de componentes eletrônicos e baterias. Com a evolução da tecnologia da bateria desenvolvida pela empresa, o nosso fundador, Wang Chuanfu, começou a ter essa visão do uso da bateria em outras operações. O uso das matérias mobilidade começou a ser estudada e, na visão dele, poderia trazer um benefício para sustentabilidade do planeta ao ser utilizada nos veículos elétricos.
Hoje temos uma gama muito grande de veículos, praticamente contemplando todas as áreas de mercado: veículos de passageiro, táxis, veículos de polícia e transporte de carga menores (vans). Na área de logística, temos ônibus elétricos urbanos e rodoviários para pequenas e médias distâncias, rebocadores para aeroportos, empilhadeiras e afins. Temos caminhões para aplicações de coleta de lixo, caminhões betoneiras, caminhões de carga.
Hoje a BYD tem uma experiência muito grande com ônibus elétricos. São mais de 50 mil unidades vendidas ao redor do mundo. Naturalmente, esse número é maior na China. Vou dar o exemplo de Shenzhen, onde 100% da frota é elétrica. São aproximadamente 16 mil ônibus elétricos e desse total 90% são da BYD. Então, dentro da China é um contexto bem disseminado e algo que vem acontecendo de forma bem gradativa na Europa e nos EUA e agora também na América Latina, com Chile e Colômbia colocando mais de mil ônibus em sua frota. No Brasil, ainda estamos em uma quebra de paradigmas, mas bem acentuada. Já temos mais de 60 ônibus rodando pelo país, nas mais variadas aplicações e com uma perspectiva muito boa, seja através de leis que já estão implementadas, leis de clima de cidade ou ações como a de São José dos Campos (SP), por exemplo, que está construindo uma nova linha de ônibus na cidade e será 100% elétrica. Acreditamos que a eletromobilidade por meio de incentivos terá um grande crescimento no Brasil.
Technibus – Por que Chile e Colômbia estão na frente em termos de ônibus elétricos? Quais as estratégias adotadas nesses dois países?
Marcello Von Schneider – A América Latina vem aumentando a quantidade de ônibus elétricos, principalmente com projetos em Santiago do Chile e Colômbia. Isto foi desenvolvido por meio de incentivos do governo federal. Vale lembrar que Chile e Colômbia são países menores e têm esse subsídio do governo, mas não é um subsídio em dinheiro. Para que esses investidores possam aparecer você precisa ter uma garantia forte. Nestes casos, os operadores de ônibus não poderiam dar essa garantia, mas o governo dando essa garantia caso o operador de ônibus ou o sistema não suporte, o governo federal fará o aporte para honrar os compromissos.
O Brasil é um exemplo que pode ser replicado sim, lembrando que estamos em um país continental, muito maior que Chile e Colômbia e muitos outros países. Nós temos conversado com diversos investidores nacionais e internacionais, com entidades que estudam isso, e entendemos que a garantia é um ponto importante para fechar essa equação. Há muita gente interessada em fazer investimento na eletromobilidade, porém, a garantia é um ponto importante. No Brasil, se houvesse uma política de garantir o recebível para o investidor que faz o investimento nessa matriz energética, seria muito importante.
Technibus – Quantos ônibus elétricos da BYD estão em operação no Brasil?
Marcello Von Schneider – No Brasil temos 60 ônibus elétricos em diversas áreas de operação. Só na área urbana já temos: 18 em São Paulo; 12 Campinas (SP); seis em Brasília (DF); um em Santos (Baixada Santista); dois em Bauru (SP); um em Maringá (PR); 12 para ser entregues ainda esse ano em São José dos Campos (SP), e temos diversos rodando em operação de fretamento, em Pará, Vitória, Fortaleza, Campinas. A experiência tem sido muito positiva.
Nós temos coletas de dados. Em São Paulo hoje nós rodamos mais de 1 milhão de quilômetros com os ônibus elétricos. Ao longo desse último um ano e meio, esses dados de operação validam que ônibus elétrico além de ser avanço por não emitir poluentes, não causa barulhos e traz economia para o operador.
Technibus – Como uma nova legislação sobre veículos elétricos poderia impulsionar o segmento?
Marcello Von Schneider – Referente a novas legislações, nós temos apoiado com dados técnicos diversas entidades nacionais e internacionais para que elas possam gerar estudos e que possam ser apresentadas ao poder público. A BYD não faz nenhum contato com Congresso solicitando algo para o setor, nós fazemos tudo isso por meio de entidades de classe que representam não só os interesses da BYD como uma associada, mas de todos os outros associados que estão interessados na eletromobilidade. Acredito que as entidades de classe possam dar uma resposta melhor pois que acompanham melhor essas ações.
Technibus – Estrategicamente, o Brasil é base para atuação da BYD na América Latina ou as operações são distintas em cada país?
Marcello Von Schneider – A BYD tem uma planta de chassis de ônibus elétrico aqui no Brasil e nada impede que possamos fazer algum tipo de venda para América Latina. No caso de Chile e Colômbia, as vendas foram feitas diretas pela China, muito em função do livre comércio entre China e Chile, o que deixa o veículo mais barato. No Brasil, nós temos a questão de todos os impostos e encargos que encarecem demais os veículos elétricos. Porém, nós temos trabalhado com encarroçadoras que tem clientes fora, nesse caso nós venderíamos nossos chassis internamente aqui para encarroçadoras para que elas atendam pedidos internacionais de clientes que já são deles e que eventualmente queiram mudar a matriz energética.
Technibus – Quais as barreiras para a ampliação dos ônibus elétricos no Brasil? Ainda há muito desconhecimento sobre o assunto?
Marcello Von Schneider – A questão de ônibus elétrico, de mobilidade elétrica é de conhecimento geral. Hoje tem muita literatura e casos mostrados no Brasil inteiro. A tecnologia está super difundida e as questões das baterias. Talvez todos não tenham a informação que o processo e o custo de operação é bem menor do que o custo que um ônibus a combustão, por exemplo, então isso é um ponto que deve ser trabalhado. O grande desafio hoje para adoção do ônibus elétrico, é a questão do financiamento, não só crédito que vai financiar o veículo para o operador, mas também a parte de garantia, como mencionei anteriormente. Tem muita gente interessada em fazer aporte e investimento nesse setor, pensando principalmente em uma remuneração a longo prazo, estamos falando de uma operação de ônibus elétrico de 15 anos. Então, você ter um recebível esse período passa a ser interessante, mas isso esbarra um pouco na questão de garantias, para que se de um conforto ao investidor.
Em uma questão de escala, se principalmente grandes cidades do Sudeste, que são pioneiras nesse sentindo, começarem a fazer adoção do ônibus elétrico em maior quantidade, isso vai atrair atenção de outras cidades, outros estados e também de outros players do mercado que passam a fazer investimento e trazer veículos de outras nacionalidades e de outros fabricantes, o que é muito importante para o mercado.
Confira o Caderno Especial Avanços dos Ônibus Elétricos na América Latina do Mobilitas.