O Sistema Transporte reuniu representantes do setor para debater a redução de emissões de carbono nas operações rodoviárias, hidroviárias, ferroviárias e aeroviárias, em painel realizado na Estação do Desenvolvimento, espaço da entidade na Green Zone da COP 30, nesta terça-feira (11/11). O presidente do Sistema Transporte, Vander Costa, destacou que a transição para um transporte de baixo carbono exige cooperação entre o governo, a iniciativa privada e a sociedade civil.
Segundo Vander Costa, o Estudo de Coalizão para Descarbonização dos Transportes tem papel estratégico na transição energética, mas o avanço depende de políticas integradas e de investimentos contínuos em tecnologia e infraestrutura. “Não é possível falar em descarbonização sem falar em logística, planejamento e financiamento. Temos buscado unir esforços para garantir que a transição ocorra de forma justa, com segurança energética e sem comprometer a competitividade do país”, afirmou.
Ele ressaltou que a coalizão representa um marco de colaboração multissetorial, reunindo entidades empresariais, representantes do poder público e da academia em torno de ações concretas de redução de emissões. O presidente também destacou o papel do Brasil como líder potencial em soluções sustentáveis, especialmente pela matriz energética mais limpa e pela capacidade de inovar em biocombustíveis e transporte verde.
“O transporte é vetor do desenvolvimento, mas também precisa ser vetor da sustentabilidade. Nosso desafio é equilibrar esses dois lados, e isso só será possível se pensarmos em longo prazo, com políticas de Estado, não apenas de governo”, completou.
Entre as medidas apontadas pelo estudo, três foram destacadas como centrais para acelerar a transição: a ampliação do uso de biocombustíveis e energia elétrica nos modais de transporte, o fortalecimento da infraestrutura de recarga e abastecimento sustentável e a renovação da frota nacional com incentivo à eficiência energética.
Nesse sentido, Vander também defende a adoção de um IPVA progressivo, que estabeleceria alíquotas mais elevadas para veículos com maior emissão de gases de efeito estufa e redução de impostos para modelos elétricos, híbridos ou movidos a biocombustíveis. “Não se trata apenas de punir quem polui mais, mas de premiar quem faz escolhas sustentáveis. É um caminho de incentivo, não de penalização”, afirmou Vander Costa, reforçando que a implementação de mecanismos econômicos é essencial para dar escala às políticas de descarbonização.
Sustentabilidade e novos investimentos
O CEO da Motiva, Miguel Setas, painelista do evento, acrescentou que a adoção de critérios de eficiência e emissões no sistema tributário aproxima o Brasil das melhores práticas internacionais, enquanto a diretora executiva do CEBDS, Daniela Mignani, destacou que a previsibilidade regulatória é fundamental para atrair investimentos e garantir que o setor privado participe ativamente da transição. Ele ressaltou ainda a importância da cooperação técnica e da troca de experiências entre países e setores. “O transporte sustentável pode se tornar um diferencial competitivo para o Brasil, atraindo investimentos e gerando empregos de qualidade”, observou.
Já Daniela enfatizou a necessidade de convergência entre políticas públicas e compromissos empresariais, destacando que a coalizão oferece um espaço inédito de diálogo. “É essencial que as ações de descarbonização sejam articuladas com metas claras e mecanismos de monitoramento. Só assim será possível garantir que o setor avance de forma transparente e efetiva”, disse.
O painel foi mediado por Ana Patrizia Lira, diretora-executiva da ANPTrilhos, e também contou com a participação de Fábio Guido (superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco) e de Bruno Temer, gerente de Sustentabilidade para a América do Sul na Michelin, que contribuíram com visões complementares sobre a integração de políticas de transporte, energia e inovação tecnológica no combate às mudanças climáticas.
Estudo Coalizão dos Transportes pela Descarbonização
É uma iniciativa inédita conduzida pelo Sistema Transporte – formado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), Sest Senat e Instituto de Transporte e Logística (ITL) –, em parceria com a Motiva (novo nome do Grupo CCR), pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e pelo Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável, do Insper, que contou com a participação de 50 empresas, entidades e organizações da sociedade civil. O material integra a pauta que a instituição leva à COP 30, em Belém (PA).
O documento traça um plano com 90 alavancas para reduzir as emissões de carbono do setor em até 68% nos próximos 25 anos, com ênfase em três medidas estratégicas: maior equilíbrio entre os modais, priorizando a ampliação do transporte ferroviário, hidroviário e por cabotagem; adoção em larga escala de biocombustíveis como etanol, biodiesel e SAF (combustível sustentável de aviação); eletrificação e tecnologias Power-to-X, incluindo o hidrogênio verde.
As projeções indicam que a evolução modal pode reduzir as emissões em até 290 MtCO₂e até 2050; o uso de biocombustíveis pode adicionar 25 bilhões de litros anuais à matriz, e a eletrificação pode cobrir até 50% da frota leve, criando impactos ambientais e econômicos positivos.
As medidas foram elaboradas com base em diagnósticos técnicos, modelagens econômicas e consultas a especialistas, que identificaram o potencial de corte nas emissões e orientaram como enfrentar os principais desafios do setor, como a dependência do modal rodoviário e dos combustíveis fósseis, por meio de diretrizes que permitam ao Brasil avançar de forma coordenada rumo à neutralidade climática.
“O Estudo Coalizão dos Transportes mostra como o setor tem potencial e propósito na transição energética no país. Para isso, há propostas de investimentos direcionadas à expansão de corredores ferroviários e hidroviários, à modernização portuária e ao incentivo à intermodalidade, com integração física e tecnológica entre diferentes modais. A estimativa é de que as medidas possam atrair R$ 600 bilhões em investimentos para o Brasil.”
O Sistema Transporte, que já participou de edições anteriores da conferência – incluindo um painel sobre hidrogênio verde na COP 28, em Dubai, e participações ativas nas Blue e Green Zones da COP 29, nos espaços da ApexBrasil, do Consórcio Amazônia Legal e da CNI –, aposta agora em um protagonismo maior. Pela primeira vez, a organização terá um espaço próprio: a Estação do Desenvolvimento, na Green Zone, onde serão realizados debates e rodadas de negócios com foco em soluções concretas para a mobilidade sustentável e a logística nacional. Também de modo inédito, possui um espaço na Blue Zone, que deve abrigar articulaões multissetores com entidades e representantes governamentais. A programação inclui ainda passeios culturais e apresentações artísticas.
Como articulador estratégico e multissetorial, o Sistema Transporte reforça seu papel na transição energética brasileira, promovendo diálogo, unindo agentes econômicos com interesses distintos e transformando a complexidade da descarbonização em oportunidades concretas. “O grande desafio é fazer convergir tantos agentes econômicos, com perfis e interesses diversos, para uma agenda comum de descarbonização. O Sistema Transporte contribui com o diálogo ao transitar por todos esses ambientes e conhecer a linguagem técnica, econômica e social do setor”, finaliza Vander Costa.
O Sistema Transporte é formado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), pelo SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte) e pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística).
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