A trajetória do design de carrocerias de ônibus no Brasil – uma verdadeira viagem pela evolução do transporte coletivo nacional – vai do que se poderia chamar de artesanal ao uso de conceitos e ferramentas globais, como se pode perceber numa rápida consulta em documentos emitidos pelas próprias encarroçadoras, trabalhos de pesquisa e informações de publicações periódicas.
Tudo começou no pós-guerra, entre as décadas de 1940 e 1960, quando o crescimento acelerado das cidades exigia transporte coletivo eficiente. Nessa fase inicial, as carrocerias eram adaptadas artesanalmente sobre chassis de caminhão, focando na funcionalidade. Surgiram então as primeiras grandes encarroçadoras brasileiras, como Caio, Nielson (que mais tarde viraria Busscar), Ciferal e Carbrasa. Esse período lançou as bases de uma indústria que logo ganharia força e identidade própria.
Nos anos 1970 e 1980, o cenário mudou com a padronização dos chassis pelas montadoras, o que permitiu maior investimento em design e conforto. As carrocerias começaram a ganhar linhas mais aerodinâmicas e acabamentos sofisticados, além de novos materiais. Marcopolo, que emergiu fortemente, e a Comil se destacaram ao criar modelos robustos e confortáveis, especialmente para o transporte rodoviário, marcando o início da modernização que redefiniria o setor.
A década de 1990 foi marcada por sofisticação e expansão internacional. O Brasil deixou de ser apenas produtor para virar exportador, conquistando mercados na América Latina, África e Ásia. O design incorporou tecnologias eletrônicas, sistemas de climatização e ergonomia avançada. Modelos icônicos como o Paradiso, da Marcopolo, e o Jumbus, da Busscar, expressaram a união entre estética e funcionalidade, tornando-se referência mundial.
Presente e futuro
Entre 2020 e agora, o design de carrocerias no Brasil alia sustentabilidade, inovação e tecnologia. Com o uso de materiais leves e recicláveis, as empresas focam na eficiência energética e na segurança, atendendo a rigorosos padrões internacionais. Marcopolo, Caio e Mascarello são nomes que ecoam globalmente, entregando ônibus conectados, com wi-fi, sensores e interiores customizáveis, tudo pensado para o conforto e a praticidade do usuário.
O futuro já aponta para mudanças radicais. A eletrificação promete veículos mais silenciosos e espaçosos, enquanto os testes com ônibus autônomos indicam um design revolucionado, sem cabine tradicional. Ferramentas digitais avançadas, como CAD 3D e realidade aumentada, transformam o desenvolvimento e a manutenção dos veículos. Além disso, a integração urbana cresce, com ônibus conectados a ciclovias, corredores BRT e infraestrutura elétrica, em uma clara aposta na mobilidade sustentável e no design biofílico, que valoriza a conexão com o ambiente.
Memória da Marcopolo
O Espaço Memória Marcopolo — Valter Gomes Pinto, localizado em Caxias do Sul (RS), é um centro cultural dedicado a preservar a rica história da Marcopolo, a maior encarroçadora do Brasil, e sua importância para o desenvolvimento do transporte coletivo mundial. Com um acervo que ultrapassa 140 mil itens, o espaço reúne fotografias, documentos, vídeos, troféus e diversos objetos que contam a trajetória da empresa desde sua fundação. Aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 16 horas, o Espaço Memória é um ponto de referência para entusiastas, pesquisadores e profissionais interessados na evolução do design e da tecnologia das carrocerias de ônibus brasileiras.
Além da exposição física, a Marcopolo disponibiliza uma plataforma virtual que permite explorar digitalmente sua história e os marcos que consolidaram a empresa como uma das líderes globais no setor. Um destaque especial do acervo é a restauração e exposição permanente do modelo Nicola 1967 na unidade Ana Rech, em Caxias do Sul, que representa um importante capítulo da inovação em design e engenharia da companhia. O Espaço Memória Marcopolo é, portanto, um lugar onde passado e futuro se encontram, refletindo o compromisso da empresa em perpetuar sua história e inspirar novas gerações no desenvolvimento do transporte coletivo.
Confira a reportagem completa na 176ª edição da Technibus
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