FNP espera anúncio de sequência de plano para base de dados sobre mobilidade urbana na COP 30

Um sistema de dados é considerado essencial para modernizar e tornar o transporte público mais sustentável; em 2023 apenas 67 municípios preencheram a plataforma da Pesquisa Nacional de Mobilidade Urbana

Alexandre Asquini

Os primeiros resultados de um projeto piloto da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) mostram que é viável construir uma plataforma unificada de dados sobre mobilidade urbana no Brasil. Essa ferramenta tem potencial para transformar a forma como políticas públicas são elaboradas e monitoradas no país.

Lançado oficialmente na segunda-feira, 28 de julho, em Goiânia, o projeto foi estruturado com apoio do ministério das cidades. Os organizadores esperam que o governo federal anuncie a expansão da iniciativa durante a COP30, que acontecerá em Belém (PA), entre 10 e 21 de novembro de 2025.

A proposta busca solucionar um dos maiores entraves à melhoria do transporte público: a falta de uma base de dados ampla, atualizada e confiável. Os autores do projeto destacam que o atual sistema de informações da mobilidade urbana (SIMU) é limitado, dependente de dados declaratórios e com baixa taxa de resposta.

Para se ter uma ideia dessa fragilidade, em 2023 apenas 67 municípios preencheram a plataforma da Pesquisa Nacional de Mobilidade Urbana – um levantamento anual do ministério das cidades que coleta dados sobre transporte público e infraestrutura de mobilidade ativa no país. Há também limitações tecnológicas: a plataforma atual tem baixa usabilidade para gestores, sociedade e investidores. Com o novo modelo, a ideia é estabelecer uma base de dados alimentada automaticamente.

Outro desafio é a ausência de um arcabouço legal que sustente o sistema de informações. Atualmente, não há instrumentos jurídicos que garantam o SIMU, com exceção da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012).

Próximos passos

Com a etapa de lançamento concluída, os proponentes estão confiantes no avanço do projeto no segundo semestre de 2025 e esperam um anúncio de continuidade durante a COP30. O cronograma prevê a incorporação de dados de demanda, com base na bilhetagem eletrônica, entre agosto e setembro. A validação de resultados com gestores locais deve ocorrer até outubro, e os dados consolidados devem ser apresentados na Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos, em novembro.

Antes da apresentação, o secretário-executivo da FNP, Gilberto Perre, destacou que o Brasil possui experiências bem-sucedidas na estruturação e manutenção de bancos de dados públicos, como o DataSUS, na área da saúde, e o INEP, no campo da educação. Ele enfatizou: “É urgente a criação desse sistema nacional de dados de mobilidade urbana para entender quantos passageiros temos, qual é a nossa frota, a idade dessa frota, o tempo de deslocamento, como nossa população está sendo atendida — para termos condições de criar políticas públicas adequadas.”

Estrutura do novo SIMU

O novo sistema deve envolver o governo federal (com aporte de recursos financeiros), governos estaduais e municipais, operadores de Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) e outros fornecedores de dados. O centro de integração das informações será uma API — uma interface que permite a comunicação entre diferentes sistemas. Ela conterá regras e protocolos que facilitam a troca de dados e funcionalidades.

Essa API alimentará um “data lake” — um repositório centralizado e capaz de armazenar grandes volumes de dados brutos, estruturados e não estruturados, no seu formato original. Isso facilitará tanto a ingestão e o acesso aos dados quanto sua integração com ferramentas de análise.

O projeto prevê diversas etapas: limpeza e validação dos dados; cálculo de indicadores; monitoramento da qualidade e disponibilidade da informação; e alimentação de um banco nacional com painéis de visualização e exportação de indicadores.

Resultados

Participam desta fase piloto 14 cidades: Goiânia, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Florianópolis, Belém, João Pessoa, Campinas, Contagem, Uberlândia, Manaus e Campina Grande. A seleção considerou critérios como diversidade regional, porte dos municípios e maturidade na gestão de dados, segundo explicou João Lucas Albuquerque, gerente de mobilidade urbana da FNP.

Durante a reunião em Goiânia, ele informou que foram coletados dados de cerca de 13,3 mil ônibus — o equivalente a 12% da frota nacional — que percorrem 2,5 milhões de quilômetros por dia útil nas cidades participantes. Os resultados apontam desafios claros: apenas duas das cidades oferecem dados em interface aberta, o que permite automação. Nas demais, a coleta ainda depende de arquivos manuais, dificultando o processamento contínuo.

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