Impasse na eletrificação da frota da capital paulista gera gap de R$ 300 milhões para a Mercedes-Benz

A empresa ainda não recebeu o pagamento por 175 ônibus elétricos (eO500U) produzidos no ano passado, devido ao modelo de financiamento adotado na cidade de São Paulo

Marcia Pinna

A cidade de São Paulo enfrenta um impasse no processo de eletrificação da frota de ônibus, que conta atualmente com 449 modelos movidos a bateria. Proibidos de adquirir ônibus movidos a diesel pela administração municipal, os operadores não conseguem colocar em operação boa parte de sua frota elétrica por falta de infraestrutura interna e externa das garagens para o abastecimento dos veículos.

Essa situação gera também prejuízos aos fornecedores. A Mercedes-Benz ainda não recebeu R$ 300 milhões em pagamento por 175 ônibus elétricos, encomendados por três operadores – Viação Metrópole Paulista, Sambaíba e MobiBrasil – que foram produzidos no ano passado. A responsabilidade pela implementação da infraestrutura é da Enel, fornecedora energia para o município de São Paulo.

Segundo Walter Barbosa, vice-presidente de vendas e marketing peças e serviços ônibus da Mercedes-Benz, isso ocorre por causa do modelo de financiamento adotado na capital paulista, que prevê o pagamento dos fornecedores somente quando o veículo entra em circulação. “Para isso, não basta o ônibus estar pronto, mas também é necessário que a infraestrutura de abastecimento esteja devidamente instalada, possibilitando sua efetiva operação”, conta.

Barbosa informa que a Mercedes-Benz está buscando alternativas para solucionar essa situação junto à prefeitura de São Paulo e ao BNDES, que liberou parte do financiamento da frota elétrica na cidade. “Esse modelo adotado não permite que a eletrificação avance. Isso afeta todos os fornecedores. Nós propomos um novo modelo. Ele pode, por exemplo, prever multas para quem não cumprir a sua parte, ou separar o pagamento de todos os envolvidos, como os fabricantes de veículo e o fornecedor de energia”, aponta.

Descarbonização

O executivo diz que outras cidades escolheram modelos de financiamento mais interessantes que o vigente na capital paulista. O ônibus elétrico da Mercedes-Benz vem sendo demonstrado em operações regulares na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, assim como já ocorreu em Belo Horizonte (MG), Curitiba (PN) e Rio de Janeiro (RJ). Em São Paulo, a montadora já tem 436 unidades em operação: 111 da própria marca e 325 em parceria com a Eletra. E a companhia também exporta para outros países como Chile, Argentina e México.

O ônibus elétrico articulado eO500UA, apresentado na LatBus 2024, já tem um programa de testes para 2025 e começará a circular em 2026, devendo ser exportado para outros países da América Latina. Protótipos do ônibus articulado eO500UA, com carroçaria Caio, cumprem um programa de testes de funcionalidade e durabilidade em trechos urbanos de algumas cidades e nas pistas do Centro de Testes Veiculares da Mercedes-Benz do Brasil em Iracemápolis, parceria com a Bosch. 

Barbosa avalia que os problemas de infraestrutura formam o maior “gargalo” no processo de eletrificação da frota de ônibus do Brasil. “Mas essa dificuldade não ocorre somente aqui. Mesmo na Europa isso foi difícil. O maior desafio para o nosso país é que a estrutura de fornecimento de energia foi projetada para linhas de baixa tensão. E há necessidade de evoluir para linhas de média e alta tensão, o que leva tempo.”

O executivo destaca também que há outras alternativas para a descarbonização, como a combinação do Euro 6 com combustíveis mais limpos como o biodiesel, o diesel verde R5 e o HVO, além do biometano, que retornado ao centro das discussões, mas também necessita de infraestrutura para ser utilizado em larga escala.

Modelo elétrico articulado O500UA (Divulgação)

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