Abimael Parejo, diretor comercial da Irizar Brasil: “A Lat.Bus 2024 é um evento fundamental para nós, porque poderemos apresentar o novo produto e o novo posicionamento da marca”*

A Irizar está no Brasil desde 1998, e nos últimos anos a fábrica de Botocatu (SP) tem se dedicado principalmente à produção para o mercado externo, mas agora a empresa quer reforçar sua presença no Brasil

Por Márcia Pinna Raspanti

Technibus – Quais as perspectivas da Irizar Brasil para 2024? A Irizar quer reforçar sua presença no país?

Abimael Parejo – Como grupo, estamos investindo em modernização das fábricas e em novos negócios. No Brasil, estamos trabalhando aos sábados, sem férias, para atender as demandas importantes que nós temos na exportação. Aqui, vale falar um pouco dessa “não presença” no mercado nacional. Quando chegamos no mercado brasileiro, em 1998, quisemos trazer diferenciais que pudessem abrir as portas para nós. Nossa estratégia foi procurar nichos, mas encontramos diversas barreiras para isso. Então, acabamos buscando alternativas fora do Brasil, buscando segmentos que entendiam, valorizavam e absorviam mais o nosso produto. E isso funcionou, e nos levou a ocupar nossa capacidade com esses produtos. Assumimos compromissos em outros mercados que não podemos deixar mais. Não dá para exportar apenas quando o dólar ajuda, e quando não ajuda simplesmente desaparecer. Conquistamos clientes cativos que não deixam de comprar a nossa marca. E nos tornamos referência no transporte de pessoal para as minas no Peru e no Chile. O desafio é levar os trabalhadores para os campos de operação em ambientes super agressivos, em rotas complexas. E a gente entendeu essa necessidade e adaptou nossos produtos. O ônibus Irizar hoje transporta o time do Real Madrid de futebol, mas também anda a cinco mil metros (de altitude) por 15 horas em estradas de terra transportando trabalhadores das minas. O setor de mineração compreendeu o nosso esforço em atendê-lo. hoje, praticamente, todas as minas importantes da América Latina usam Irizar. Acabamos de entregar 52 ônibus para uma operação muito complexa de mineração no Peru, chamada Las Bambas. É um desafio brutal que estamos assumindo. Temos operações no Chile com viagens de até 18 horas. É um nicho complexo, mas para o qual conseguimos personalizar o produto. Estamos planejando também entrar nos mercados da Argentina e da Colômbia em um futuro próximo. Todo esse contexto ajuda a compreender porque tivemos foco na exportação. Mas, nunca deixamos o Brasil. Nosso mercado é o Brasil e queremos voltar a vender no país. E estamos nos preparando para isso.

*Confira a entrevista completa na Technibus 169

Technibus – E quais os planos para retomar uma atuação mais forte no mercado brasileiro?

Abimael Parejo – Neste ano, vamos lançar um produto novo para o mercado brasileiro e latino-americano. E ele tem um forte atributo que é o consumo de combustível. A Irizar sempre foi uma referência no mundo com relação a desenho, conforto e inovação. Nos últimos anos, a gente se concentrou em melhorar a operação, pensando no operador, no que se refere a consumo, e pensando no meio ambiente, diminuindo as emissões. O processo de transição energética começou na nossa fábrica há muitos anos, faz parte do nosso modelo de negócios, e passa por fazer produtos mais eficientes, que consumam menos. Eu entendo que esse produto que vamos lançar tem mercado no Brasil. É um modelo rodoviário que se chama Efficient i6S, que será lançado na Lat.Bus 2024, em agosto. Vamos trazer muitos clientes de outros países da América Latina para a feira, para que conheçam o produto. No Chile, nosso principal nicho é a mineração, porém vou trazer também grandes operadores rodoviários para ver o que fazemos nesse segmento de rodoviário. Na Europa, há dois anos, foi lançado o Efficient, e o foco foi reduzir as emissões, pensando no TCO e na operação. A gente trabalhou na melhora da estrutura, com relação ao peso e ao coeficiente aerodinâmico. E passamos todo esse período adaptando o produto para o mercado brasileiro. O fato é que diminuir peso na estrutura da veículo tem uma conotação relevante quando você pensa nas estradas brasileiras e latino-americanas. Um operador espanhol tem um desempenho diferente de um brasileiro pois há diferenças nas vias, clima, combustível, condução e outros fatores. O Efficient para o Brasil é diferente do que foi feito na Europa, em que alguns aspectos foram mantidos em relação à linha anterior, com algumas melhorias. A gente fez um veículo 100% novo para o Brasil: desenvolvemos gamas de assentos novos, depois de muitos anos a gente entendeu melhor o gosto do país. Chegamos querendo convencer o brasileiro que a poltrona europeia era melhor. Isso foi um erro. A gente entende que o Efficient i6S será uma ferramenta nova para nos ajudar a reposicionar a marca no país.

O fato de fazer do Brasil nossa base operacional e reestruturar nossa equipe comercial mostra que a gente quer retomar o mercado nacional. Eu aprendi que o país é muito grande. Não adianta achar que vou vender para o país todo, uma venda aqui outra ali. Isso não se sustenta. Esse não é o respaldo que queremos dar para os clientes. É preciso ter uma estrutura comercial que se sustenta, um pós-vendas robusto, oferecer peças de reposição a preços competitivos. E vamos fazer isso aos poucos. Vamos começar com mercados próximos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais. Estruturar bem isso e captar pedidos que nos ajudem a voltar a vender aqui, a entender esse universo brasileiro. Não significa que a Irizar vai passar a vender grandes lotes, a marca vai continuar a ser uma empresa de nicho, com produtos diferenciados. Eu preciso mostrar ao cliente que o produto é premium, que não é somente um ônibus, um Irizar é design, pós-vendas e também segurança e inovação. Claro que está nos planos da empresa fazer uma fábrica nova aqui, como vamos precisar em breve, mas uma decisão dessa precisa de muito planejamento. Nosso sonho é ter uma fábrica nova, mas precisamos ser muito realistas quanto a isso. Precisamos ver quando esse crescimento de demanda vai se estabilizar. Vai chegar a nossa vez.

Technibus – O Efficient é destinado para que segmentos?

Abiamel Parejo – A princípio é um ônibus voltado para o segmento rodoviário, para as grandes linhas rodoviárias, mas como ele tem essas características de conforto, de modernidade e de elegância, também é adequado para o mercado de turismo. Decidimos que esse produto não terá os famosos espelhos, serão apenas câmeras, ou seja, não teremos os espelhos nem como opcional. No fretamento, acredito que não terá tanta aceitação, pois as rotas no Brasil são mais curtas e simples, mas pode ter boa aceitação no segmento de mineração de países como Chile e Peru. Hoje existe mercado para o Efficient no Brasil. A gente sabe que por aqui o modelo DD é a estrela do mercado, e se transformou em sinônimo de luxo, mas vamos focar o novo produto, que tem essa característica de economia de combustível, em nichos em que o modelo DD não tem tanta eficiência e apelo. Já temos clientes de fora do país interessados. No mercado de muitos países como o Brasil, o desafio do operador é fazer com que o veículo seja rentável, pois os operadores enfrentam a concorrência do transporte clandestino e do modal aéreo. O Efficient i6S é uma ferramenta que estamos trazendo para que ele seja competitivo no mercado. O modelo é lindo. É espetacular. Nesse momento estamos fazendo testes sobre emissões e consumo para termos dados confiáveis para mostrar para os clientes os diferenciais que o veículo traz para as operação no dia a dia. A Lat.Bus 2024 é um evento muito importante para nós, porque poderemos apresentar o novo produto e o novo posicionamento da marca.

Technibus – Como a Irizar avalia o processo de eletrificação?

Abimael Parejo – Esse processo já começou no Grupo Irizar há muito tempo, devido ao contexto europeu. Na Europa, a transição energética teve início com datas e metas bem definidas. Hoje essas determinações estão mais flexíveis porque o mundo também mudou. Mas a Irizar começou a se preparar lá atrás, quando lançamos nosso primeiro urbano elétrico. Em 2018, criamos o negócio E-Mobility, com fábricas de motores e baterias. E foi um grande aprendizado. Somos referência em eletromobilidade na Europa e queremos ser também no Brasil. E vamos ser, mas falta dizer como e quando. Vamos entregar alternativas para as empresas de mineração que precisam fazer a sua parte na redução de emissões no Chile, no Peru e no Brasil também. Vamos atender esses clientes. A Irizar não vai deixar de ser uma fabricante de carrocerias. Nós queremos oferecer a melhor alternativa para os fabricantes de chassis. É importante marcar essa posição nossa, já que se discute muito os veículos integrais como solução para a eletrificação.

Technibus – Quais os maiores desafios para que a transição energética avance no Brasil?

Abimael Parejo O Brasil está em um contexto inevitável: a eletrificação vai chegar. Como vai ser feito isso? Como serão os financiamentos? A indústria tem debatido essas questões. O Brasil tem avançado muito, tem feito um esforço enorme, correndo atrás de soluções tecnológicas. Vemos três, quatro fabricantes se unindo para criar um modelo brasileiro, um elétrico com o nosso jeito. E isso vai levar a soluções. Para a Irizar, chegou o momento de avaliar a eletromobilidade fora da Europa, quais são as oportunidades, pois nosso projeto está maduro. No Brasil, a Irizar está se preparando para ser também uma referência em eletromobilidade na América Latina.  Chile, Colômbia e México estão hoje basicamente recebendo produtos chineses, o que gera desafios adicionais para nós. Há uma barreira econômica e de preço quase instransponível para os produtos brasileiros. Mas o Brasil é um país gigante e temos que lutar para a indústria nacional se fortalecer. Temos o desafio de entender o que o mercado latino-americano busca. Estamos avaliando o ônibus rodoviário elétrico para atender esse nicho de mineração e fretamento premium. E no Brasil, no contexto atual, com o Novo PAC e as novas linhas de financiamento estamos olhando “com lupa” as oportunidades, pois parece que temos políticas públicas de incentivo. O objetivo da equipe brasileira é mostrar para a E-Mobility que o momento chegou, que temos mercado e oportunidades aqui. Nós queremos fazer um modelo premium para a região. O que a gente vê na Europa é que é necessário dinheiro público para promover a eletrificação do transporte, e o dinheiro público aparece em função de prioridades. E a Europa hoje tem outras prioridades. Então, aquele boom europeu de veículos elétricos já passou. E temos que lembrar que há outras alternativas como gás, biodiesel, álcool, e retirar frota antiga das ruas já ajuda muito na descarbonização. Fizemos um rodoviário a hidrogênio que esperávamos comercializar o hidrogênio em 2025, um rodoviário completo, pode ser do jeito que o cliente quer. Mas já sabemos que não será comercializado em 2025 porque o preço do hidrogênio não baixou.

*Confira a entrevista completa na Technibus 169

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