Paula Correa, CEO da Viação Águia Branca: “Sobre o uso de energia limpa no setor de transportes, é primordial que as montadoras evoluam na adaptação dos veículos, e que as políticas públicas favoreçam o consumo de combustíveis mais sustentáveis”

“Fomentar debates centrados nessa temática é de extrema relevância para ampliar a adoção de práticas sustentáveis no mercado. O Fórum Transporte Sustentável atua como um importante canal ao possibilitar a troca de experiência entre as empresas do segmento”, avalia a executiva

Technibus – Qual a importância da sustentabilidade e da agenda ESG para a Águia Branca? 

Paula Correa – Os preceitos da sustentabilidade sempre estiveram presentes no DNA da Águia Branca por meio de processos administrativos e operacionais, visando a otimização de recursos naturais, o cuidado com o meio ambiente, a segurança operacional e o desenvolvimento de pessoas. Essas iniciativas estão integradas à estratégia do negócio, de forma que a responsabilidade em nossas operações e a satisfação do cliente estejam sempre norteando as nossas decisões para sermos uma empresa cada vez melhor para o mundo.  Nesse sentido, a agenda ESG tem contribuído para avaliarmos as nossas forças e identificarmos as oportunidades de melhoria de acordo com as expectativas dos nossos públicos, considerando os riscos, os ganhos de reputação para a marca e, consequentemente, a nossa competitividade. 

Technibus – Que ações ligadas ao tema a empresa já implementou? 

Paula Correa – O cuidado com o meio ambiente e com os recursos naturais sempre fez parte dos nossos processos e da gestão de tudo o que fazemos. Avaliamos fornecedores com base em critérios ambientais, tratamos os resíduos corretamente, fazemos a manutenção correta dos veículos e treinamos os motoristas em condução econômica.  Desde 2007, o Grupo Águia Branca é responsável pela preservação de uma importante área remanescente de Mata Atlântica no Espírito Santo, convertidas em 2017 em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Com mais de 2,20 mil hectares, a Reserva Ambiental Águia Branca contribui para a formação do corredor ecológico entre os parques estaduais de Pedra Azul e Forno Grande.  

Em 2020, foi criada a AB Energias Renováveis, que congrega os projetos de geração de energia limpa para atender as demandas do grupo. Com R$ 13 milhões de investimento, a AB já instalou mais de dez mil painéis fotovoltaicos nos estados do ES, MA, MG, PA e PR, totalizando 4300 Kwp de capacidade, o equivalente ao consumo de mais de 3,3 mil residências, considerando o consumo médio de 150kw/h mês. A iniciativa evita o lançamento de pouco mais de 3,5 mil toneladas de CO² na atmosfera por ano.  Recentemente, a Vix Logística apresentou ao mercado o primeiro veículo autônomo brasileiro para transporte de grandes cargas em áreas industriais, chamado Galileu. Com nível 4 de automação, considerado o mais próximo da robotização total, o equipamento funciona com comandos e limites previamente definidos para a movimentação de cargas com volume acima de 80 toneladas. Baseado no intenso uso da digitalização e da robotização de processos, o Galileu é focado na automação de operações logísticas e irá atender todos os segmentos que a VIX Logística já atua, como siderurgia, florestal, papel e celulose, mineração, óleo e gás, setor automotivo, agronegócio dentre outros, com visão estratégica de futuro para expansão de novos negócios. 

No último ano, na Viação Águia Branca, economizamos mais de 45 mil litros de óleo diesel e evitamos que 120 toneladas de CO² fossem lançadas na atmosfera por meio do projeto Condução Econômica, que visa combater o desperdício e reduzir os índices de emissão. Entre os benefícios mapeados, além do aspecto ambiental, o projeto também gera o aumento da quilometragem percorrida por litro consumido, a preservação dos pneus e ampliação da vida útil dos componentes do veículo. 

No campo social, nossa principal marca é a segurança. Temos esforços contínuos para promover um ambiente seguro em todas as operações e atividades. Isso envolve muita capacitação, monitoramento, tecnologias e equipamentos. A segurança é valor inegociável em tudo o que fazemos.  Além dos inúmeros protocolos, procedimentos e políticas, a Viação Águia Branca é pioneira no desenvolvimento do Programa Medicina do Sono, que inclui atividades de capacitação, acompanhamento individual dos motoristas, testes de vigília e fadiga, além das salas de estimulação do alerta, que estão localizadas em pontos estratégicos de paradas de motoristas para a manutenção do nível ideal de atenção ao dirigir e prevenção à sonolência por meio de estímulo luminoso, alimentação balanceada e prática de atividades específicas. Ainda na área social, uma iniciativa que temos muito orgulho é o Programa de Voluntariado, que começou em 1998 e foi recentemente reformulado tornando-se um programa de engajamento social integrado a outros projetos nas comunidades vizinhas. Um dos mais recentes projetos da Viação Águia Branca é o programa “Onde começa a viagem”, lançado em parceria com o Senai, voltado para a capacitação profissional por meio de cursos rápidos para as famílias dos colaboradores, visando ampliar a renda familiar.   

No pilar governança, as políticas internas seguem as principais recomendações – como conselhos com membros independentes, comitês temáticos, políticas de integridade e compliance, auditorias e canais de denúncia, por exemplo. A partir da governança, fortalecemos a cultura organizacional e as diretrizes corporativas direcionam as estratégias de todas as empresas do grupo.  

Technibus – Existem projetos futuros em estudo? 

Paula Correa – O nosso desafio atual é mapear e consolidar informações, evidências e indicadores sobre as práticas sociais e ambientais que já temos. Somente a partir disso poderemos avançar na definição de metas e novos compromissos públicos, alinhados com a estratégia ESG do grupo como um todo.  

Technibus – Qual a expectativa em relação ao III Fórum Transporte Sustentável? Qual será o teor da apresentação da empresa? 

Paula Correa – Fomentar debates centrados nessa temática é de extrema relevância para ampliar a adoção de práticas sustentáveis no mercado. O fórum atua como um importante canal ao possibilitar a troca de experiência entre as empresas do segmento.  Estamos preparando uma apresentação pautada nos projetos construídos pelo Grupo Águia Branca, que fornece relevantes direcionadores para o desenvolvimento dos projetos e patrocina nossas iniciativas. Esperamos compartilhar parte desse trabalho integrado e os resultados alcançados, além dos principais desafios em andamento. 

Technibus – No geral, o segmento de transporte rodoviário de passageiros tem se engajado no tema da sustentabilidade?  

Paula Correa – A sustentabilidade está em voga em diversos segmentos e isso não seria diferente no setor de transporte rodoviário de passageiros. As empresas que estão atentas ao cenário já entenderam a relevância do tema para a garantia de uma operação mais segura, sustentável e, principalmente, com confiança. 

Technibus – Como o poder público poderia incentivar mais as empresas do setor a adotar práticas sustentáveis?  

Paula Correa – Acreditamos no trabalho em conjunto entre poder público, setor privado e sociedade. A adoção de práticas sustentáveis implica melhorias para todos, sobretudo para o futuro das próximas gerações. Zelamos pelo ambiente ao qual pertencemos, e esse cuidado é uma atribuição de todos, seja pelo olhar vigilante da sociedade, pelo empenho das empresas no desenvolvimento de soluções eficazes e com impactos reduzidos ou no apoio do poder público por meio da construção de políticas alinhadas com a temática. 

Technibus – No que se refere à nova matriz energética, a empresa acredita em uma transição para ônibus elétricos? E quanto a outras fontes de energia limpa? 

Paula Correa – Em 2021, o Grupo Águia Branca lançou o primeiro ônibus elétrico rodoviário do Brasil, que circula em nossas operações de fretamento na divisão Logística. Com caráter experimental, o projeto tem sido muito importante para aprendermos sobre as possíveis aplicações aos negócios do grupo. Além do desafio do investimento, o dobro de um ônibus com motor a combustão, uma restrição, por exemplo, é a duração da bateria, com autonomia até 300 km apenas, e o tempo de carregamento. Nesse sentido, o impacto na disponibilidade da frota ainda não viabiliza a adoção dos ônibus elétricos no mercado de linhas regulares interestaduais. 

Sobre o uso de energia limpa no setor de transportes, é primordial que as montadoras evoluam na adaptação dos veículos e que as políticas públicas favoreçam o consumo de combustíveis mais sustentáveis.  

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