Leticia Pineschi, porta-voz da Abrati: “Empresas de transporte rodoviário regulares geram empregos formais para pessoas reais, que desejam trabalhar para oferecer a melhor viagem ao passageiro”

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), com a retomada do turismo nacional, as empresas do setor voltaram a contratar. Em dezembro, há vagas abertas em todas as áreas do setor de transporte rodoviário regular de passageiros

Technibus – Este crescimento nas contratações é devido à demanda de final do ano ou deve-se a uma retomada mais consistente do setor?

Leticia Pineschi – Ambos, pesa a questão da demanda de final de ano, mas dessa vez o peso maior está na retomada mais consistente do setor, posto que as contratações citadas não são para trabalhadores temporários e sim efetivos. Por outro lado, as empresas estão de olho na oportunidade de fidelizar os clientes migrados do transporte aéreo e dos veículos particulares, cujo alto custo tem levado os passageiros a experimentarem o transporte rodoviário que oferece uma ótima relação entre custo e benefício.  Para isso, vale aliar aos investimentos em frota quem vem sendo realizados à contratação e à capacitação de profissionais de atendimento de alto nível, passando por motoristas mais qualificados não apenas na condução segura, confortável e ecológica, mas também no relacionamento com o cliente. Igualmente há oportunidades para agentes de vendas, profissionais de dados, analistas de pricing, gestores de mídias sociais, CRM e SAC. Empresas de transporte rodoviário regulares geram empregos formais para pessoas reais que desejam trabalhar para oferecer a melhor viagem ao passageiro, não apenas em uma das etapas dessa jornada mas na jornada completa.

Technibus – Em que regiões esse movimento tem sido mais intenso?

Leticia Pineschi – Em todas, com leve ênfase no Sudeste e Nordeste.

Technibus – O transporte clandestino continua a crescer? Na temporada de final de ano, deve haver um aumento desse tipo de serviço irregular?

Leticia Pineschi – O transporte ilegal ganhou um pouco mais de espaço em 2020 e 2021, por conta das restrições impostas à circulação nos diversos ciclos de contaminação da pandemia – que o transporte rodoviário regular de passageiros respeitou rigorosamente. Já o transporte clandestino, que não segue as regras ou tem respeito ao cliente, aproveitou-se do cenário de redução das linhas regulares e deve ter crescido em torno de 30% no país, sofisticando-se e tomando ares de legalidade, em especial nos canais de venda online. Existe uma parcela da população que recorre ao transporte ilegal por conta das tarifas mais baratas sem muita consciência dessa ilegalidade, infelizmente, e que precisa ser alertada e esclarecida das diferenças e riscos embutidos nessa escolha, esse tem sido o esforço da Abrati em suas campanhas educativas como a que lançamos agora em dezembro cujo slogan é “Busão Bom é Busão Legal”.

Technibus – Quanto a Abrati calcula que seja o crescimento das viagens pelo transporte rodoviário regular em virtude do aquecimento do turismo?

Leticia Pineschi – Difícil separar esses percentuais de crescimento num momento em que números de retomada misturam-se ao crescimento oferecido pela demanda sazonal e em virtude do turismo. Em outubro estimamos que o aumento de demanda até o final de dezembro deveria ser de até 40% em passageiros embarcados, estamos quase lá, mas não acredito que vamos superar 2019. O importante nesse momento é fidelizar o cliente, oferecer qualidade e o serviço mais seguro possível também em relação aos protocolos de higiene que foram incorporados às rotinas das empresas, posto que a pandemia não foi 100% superada ainda.

Technibus – Esse movimento positivo – no turismo nacional – deve ser suficiente para a recuperação das empresas do setor de transporte rodoviário? Quais as perspectivas para 2022?

Leticia Pineschi – Em hipótese alguma, as consequências financeiras da crise causada pela pandemia são muito mais profundas, afetaram todos os setores e modais de transporte. Ainda que as empresas rodoviárias recuperem os volumes de passageiros embarcados em 2022, não há perspectiva de se superar a curto prazo as perdas financeiras, pois a população está fragilizada, perdeu renda, empregos e não há espaço para trabalhar aumento nos preços necessários a compor essa equação. Fora isso temos custos crescentes nos insumos e um cenário de inflação preocupante. Vamos atravessar 2022 com muita cautela e atenção, esperando que possamos manter os investimentos para tão logo olhar para esse momento difícil apenas pelo retrovisor.

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