Eduardo Tude de Melo, presidente da Abrati: “Os efeitos da pandemia foram e continuam sendo devastadores”

À frente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), o empresário analisa os efeitos da pandemia e os impactos do transporte clandestino sobre as empresas do setor.

Technibus – Quais os efeitos da pandemia no transporte rodoviário de passageiros?

Eduardo Tude – Os efeitos foram e continuam sendo devastadores, haja vista que nos primeiros três meses a redução da demanda, por motivos variados, foi de 95% e de julho em diante tem havido alguma melhora, mas com tudo que vem sendo feito para que o serviço seja o mais seguro possível, ainda não se chegou à média de 30% de ocupação se comparado com o período de normalidade anterior à pandemia.

Technibus – O pior da crise já passou? Os passageiros estão voltando a viajar de ônibus?     

Eduardo Tude – Aparentemente sim. Podemos dizer que o pior já passou, se considerarmos que as operações estão em lenta retomada e temos expectativa de que no início do próximo ano, com a possibilidade da vacina, as atividades tenderão a avançar para níveis melhores. De modo gradual e comedido, os passageiros estão voltando, sendo que nas linhas mais curtas percebe-se uma maior procura, mas nas distâncias médias e longas ainda está muito aquém do desejável.               

Technibus – O transporte clandestino cresceu com a pandemia?  

Eduardo Tude – Não diríamos que cresceu, mas que continua atuando em várias regiões.

Technibus – Quais os riscos para o passageiro ao utilizar um ônibus clandestino?

Eduardo Tude – Na pandemia ou fora dela, o uso do serviço clandestino é repleto de riscos, desde a qualidade de veículo e condutor, a ausência de apoio ao longo das rodovias, jornada excessiva dos motoristas, desconforto, ausência de seguro e a possibilidade de não chegar ao destino por variados motivos, inclusive pela apreensão do veículo no trajeto.

Technibus – E quais os impactos para as empresas que operam de forma regular?     

Eduardo Tude – Os impactos provocados pelo clandestino são relevantes, à medida que a competição é feita via baixos preços, porque o clandestino não recolhe tributos, não contrata seguros, não registra empregados e utiliza veículos que são verdadeiras sucatas.                                                                      

Technibus – A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem realizado operações de fiscalização para coibir o transporte clandestino. Esse tipo de ação é efetivo? 

Eduardo Tude – Sim, a ANTT tem feito operações pontuais de combate ao clandestino em várias regiões.  As ações são efetivas no momento de sua execução, mas a atividade volta logo após porque não há uma continuidade.

Technibus – O que mais poderia ser feito para coibir efetivamente esse tipo de transporte?

Eduardo Tude – Bastaria a ANTT regulamentar a pena de apreensão, multa severa e na reincidência o perdimento do veículo, que está prevista na Lei 10.233/01, mas que até agora não foi regulamentada para ser efetivamente aplicada.  Isso inibiria muito mais a prática do clandestino.

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