Modelos rodoviários sustentaram exportações de ônibus em junho

As 311 unidades vendidas no exterior, de um total de 381 veículos,
superaram o tradicional embarque de urbanos

A movimentação positiva nas exportações de ônibus em junho, que resultou no embarque de 381 veículos, 43,2% mais que em maio, foi sustentada pelos modelos rodoviários, que teve 311 unidades enviadas ao exterior, superando os embarques de modelos urbanos.

Segundo Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a melhora nas exportações em junho deve-se ao incremento significativo no embarque de modelos rodoviários para vários mercados, principalmente a Colômbia, que havia comprado 1,5 mil ônibus brasileiros e depois encomendou mais 1,1 mil unidades. “Não é um novo negócio, mas a continuidade no fornecimento de veículos. Houve uma renegociação por parte dos clientes e das montadoras, por causa da parada na produção devido à crise do coronavírus, e agora os embarques foram retomados”, esclarece.


Os ônibus urbanos, que tradicionalmente têm maior volume de exportação, tiveram queda expressiva em junho, de 67,7%, com o embarque de 70 veículos, enquanto, em maio, as vendas externas destes modelos atingiram 217 unidades. Segundo Bonini, esta redução ocorreu por causa da queda da demanda no exterior devido à crise na área da saúde e a postergação dos contratos. “Mas de janeiro a junho, a exportação dos dois modelos se igualaram, com a retomada dos embarques de rodoviários.”


No primeiro semestre as montadoras exportam 1.726 ônibus – 843 modelos rodoviários e 883 urbanos –, 54,5% a menos que no mesmo período de 2019, quando as vendas externas atingiram 3.797 unidades, segundo a Anfavea. Em CKD (veículos desmontados) foram exportados 974 ônibus, 24,72% a menos que no primeiro semestre de 2019, quando os embarques somaram 1.295 unidades.

A expectativa da Anfavea é que a exportação de veículos pesados (incluindo caminhões e ônibus) tenha uma queda de 43% e alcance 12 mil unidades em 2020. A previsão feita em janeiro era que as exportações caíssem 22,7%, ficando em 16 mil veículos, ante as 21 mil unidades de modelos pesados exportados em 2019.


Em valor a exportações da indústria automobilística caíram 40,8% no primeiro semestre, totalizando US$ 2,97 bilhões, ante os US$ 5 bilhões que foram exportados de janeiro a junho de 2019. “Se for mantido esse ritmo até o fim do ano, dependendo de como ficará a pandemia nesses países, as exportações atingirão US$ 6 bilhões em 2020”, prevê Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. Ele lembra que o setor já chegou a exportar mais de US$ 10 bilhões.


No mercado brasileiro as montadoras venderam 1.069 ônibus em junho,
aumento de 60,5% em relação a maio, que teve 666 veículos emplacados.
Mas comparado a junho de 2019, cujas vendas somaram 1.515 veículos a
queda foi de 29,4% e no acumulado de janeiro a junho a retração chegou
a 40,6%, com 5.716 veículos emplacados, ante as 9.619 unidades vendidas
no primeiro semestre do ano passado.


De acordo com Bonini, esse incremento já era esperado por causa do
represamento que ocorreu no setor em abril e maio com a paralisação das
atividades na indústria automobilística para enfrentar a crise na área da
saúde. “Grande parte do crescimento das vendas internas deve-se ao
Caminho da Escola, que ainda tem entregas programadas até agosto”,
afirma Bonini.


Produção –

Com o bom desempenho das vendas no mercado interno e no exterior, a produção de ônibus teve aumento de 10,1% em junho na comparação com maio, de 1.219 para 1.342 unidades. Em relação a junho de 2019, houve uma queda de 43,5% e no acumulado de janeiro a junho a redução foi de 36,5%, com 8.931 ônibus, ante 14.064 veículos fabricados no primeiro semestre de 2019. A produção de urbanos caiu 36,6%, de 10.957 unidades no primeiro
semestre de 2019 para 6.951 unidades neste ano e a de rodoviários teve
queda de 36,3%, de 3.107 para 1.980 unidades nos seis meses deste ano.

A estimativa da Anfavea é que a produção de veículos pesados (incluindo
caminhões e ônibus) termine 2020 com uma queda de 42%, alcançando
82 mil veículos. A previsão feita em janeiro era que seriam fabricados 160
mil veículos pesados este ano, aumento de 13,4% sobre os 141 mil veículos
produzidos em 2019.


Para as vendas, a estimativa é de uma redução de 39%, com 75 mil
veículos pesados emplacados no país. Em janeiro, a previsão era de incremento de 16,9%, chegando a 143 mil veículos vendidos no país, ante os 122 mil que foram comercializados em 2019.


O presidente da Anfavea informa que as fábricas retomaram a produção,
mas estão voltando em um turno em velocidade menor por conta dos cuidados com a saúde dos empregados, e as que retomaram os dois turnos não é para aumentar o ritmo de produção, mas o distanciamento para garantir a maior segurança aos trabalhadores. “Em julho, todas as fábricas estarão rodando em ritmo reduzido por causa da segurança na saúde, mas também olhando a demanda que está sendo acompanhada diariamente”, afirma Moraes.


Ao comparar a crise atual com as outras enfrentadas pelo país, o
presidente da Anfavea recorda que a principal delas foi em 1981 (do
petróleo), quando o setor caiu 41% e a recuperação foi de 5% ao ano. Na
crise de 1987 a retração foi de 33%, com recuperação de 7% ao ano. Em
1988/89 (crise da Ásia e do dólar), a redução foi de 35%, ritmo de 6% ao
ano e em 2015/2016 o declínio foi de 41%, com recuperação de 11% ao
ano. “Se a recuperação ocorrer ao ritmo de 11% ao ano o setor automotivo voltará ao patamar de 2019 somente em 2025. Essa é a melhor hipótese, considerando a recuperação do passado, e isso significa a perda de 3,5 milhões de veículos comparado com a base de 2019.”


Moraes afirma que a Anfavea está olhando não somente o que acontece
em 2020, mas tentando imaginar como pode ocorrer a recuperação da indústria automobilística e o que isso significa. “Vários CEOs têm comentado sobre esse tema e indicando que a recuperação do setor automotivo vai ser mais lenta e mais difícil e as razões são claras, pois temos um nível alto de desemprego no Brasil e vai aumentar até o fim do ano. Ainda temos uma confiança baixa na economia e alguns setores que estão voltando de forma mais rápida têm características diferentes. A gente acha que tem espaço para crescer, mas considerando esse cenário que estamos vendo hoje, esse retorno se daria nos próximos cinco anos”, diz o presidente da Anfavea.


Moraes comenta que vê com preocupação o desemprego no país. A Medida Provisória (MP 936) é uma ferramenta muito boa, mas é temporária. “Precisamos da retomada da economia, pois se isso não acontecer, o emprego está em risco não somente no setor automotivo, mas na indústria em geral.”

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